
A recente decisão do Presidente do Estados Unidos Donald Trump anunciou que vai aplicar tarifas sobre produtos brasileiros e elevou as tensões comerciais e diplomáticas entre as duas maiores economias do continente.
A decisão, carregada de implicações políticas e simbólicas, ocorre num contexto onde a figura de Jair Bolsonaro — ex-presidente brasileiro e aliado ideológico de Trump — enfrenta processos judiciais que podem inviabilizar seu retorno em 2026.
O Brasil é o quarto maior exportador de aço para os Estados Unidos. Em 2023, as exportações brasileiras de aço bruto para o mercado norte-americano somaram US$ 2,1 bilhões, sendo um dos principais destinos do produto.
O alumínio, por sua vez, gerou cerca de US$ 600 milhões em exportações para os EUA no mesmo ano. A taxação de até 50% sobre o aço e o alumínio tornaria o produto brasileiro menos competitivo.
Embora os EUA sejam grandes produtores agrícolas, há segmentos em que o Brasil tem grande espaço. Em 2023, o Brasil exportou US$ 18 bilhões em produtos do agronegócio para os EUA, com destaque para carne bovina processada, café e frutas. A taxação afeta o escoamento desses produtos e pode redirecionar acordos para países da América Central e Ásia.
A decisão de Trump tem motivação política e não econômica. O gesto ocorre em meio ao agravamento da situação judicial de Jair Bolsonaro, cada vez mais enredado em investigações sobre tentativa de golpe e uso indevido da estrutura do Estado. A taxação é vista como um aceno político à base bolsonarista, com o objetivo de alimentar a narrativa de que tanto Trump quanto Bolsonaro são perseguidos por “sistemas corruptos”.
Além disso, é uma forma de pressionar o governo Lula, oferecendo a aliados de Bolsonaro munição para atacar a condução da política externa brasileira — mesmo que o Brasil tenha mantido diálogo diplomático aberto com os EUA sob a gestão Trump.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu classificando a medida como “inaceitável” e reafirmou a necessidade de o Brasil preservar sua soberania econômica e comercial. O governo estuda recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) e ao mesmo tempo, intensifica negociações com China, União Europeia, Mercosul e países árabes, visando ampliar mercados para compensar possíveis perdas.
Com isso, Lula reforça seu discurso histórico de que o Brasil não pode ser dependente de uma única potência e precisa atuar como um agente autônomo no cenário internacional. A retórica da soberania nacional ganha força e é bem recebida tanto pela indústria quanto por setores progressistas.
Num país onde o debate político frequentemente se funde com o internacional, esse episódio pode ter consequências eleitorais importantes. A taxação fortalece o discurso nacionalista de Lula e o reposiciona como o líder que enfrenta potências estrangeiras para defender os interesses do povo brasileiro.
Ao mesmo tempo, Bolsonaro e sua base tentam capitalizar a ação de Trump como uma prova de alinhamento ideológico e influência global. No entanto, com Bolsonaro juridicamente enfraquecido, esse movimento pode isolar ainda mais a direita brasileira num discurso antissistema que gera insegurança para o mercado.
Se a disputa de 2026 continuar polarizada, temas como soberania, política externa, agronegócio e indústria podem se tornar centrais. E Lula, caso concorra ou lance um sucessor, entra com vantagem nesse campo.
A taxação de Trump contra o Brasil é mais do que uma medida tarifária: é uma jogada geopolítica com efeitos econômicos imediatos e repercussões políticas de médio prazo. Ao mesmo tempo em que afeta setores-chave da economia, ela reaquece o debate sobre quem deve conduzir o Brasil diante das potências globais. Lula, com sua resposta firme, recoloca a soberania nacional como tema central — e fortalece sua posição para o próximo ciclo eleitoral.