
Nas últimas semanas de julho, dois fatos chamaram a atenção da imprensa, em virtude de situações lamentáveis protagonizadas por alguns prefeitos. A primeira ocorreu em São Lourenço da Mata, envolvendo o prefeito Vinícius Labanca (PSB), e a segunda envolveu o prefeito de Cuiabá, Abílio Brunini (PL).
Na situação ocorrida em São Lourenço da Mata, o prefeito Labanca participou da cerimônia de posse para novos professores, aprovados em concurso público, e o que deveria ser um momento de comemoração tornou-se um grande bate-boca e desrespeito entre os presentes, culminando em vaias direcionadas ao chefe do executivo, desequilíbrio e uma discussão sem precedentes.
Já na segunda ocasião, ocorrida na 15ª Conferência Municipal de Saúde, em Cuiabá, o prefeito Abílio interrompeu o discurso da professora Maria Inês da Silva Barbosa, da UFMT, convidada pelo evento para falar sobre saúde pública, após a docente utilizar o termo “todes”. No evento, o prefeito repreendeu a utilização do termo “todes”, causando desconforto entre os presentes e a saída da professora da conferência.
Nas duas situações, ambos os gestores se mostraram nervosos e despreparados quando questionados pelos presentes. Após o ocorrido, o que aconteceu foi todo um roteiro que já se esperava: exposição negativa dos prefeitos, notas de repúdio, radicalização nas discussões e a péssima impressão, não apenas para os gestores, mas para a política.
Com absoluta certeza, as duas circunstâncias podem ser consideradas excelentes exemplos de não fazer. Eventos e atividades públicas são espaços coletivos; não cabe muita polêmica, tampouco discussões rasteiras, principalmente com a população em geral. A liderança política, naquele momento, está diante da oportunidade de fazer aquilo que um político normalmente não faz cotidianamente: conversar frente a frente com o povo, sem ensaios ou liturgias.
Mas para isso, é fundamental estar preparado, com equilíbrio, munido de informações e pronto para receber os devidos aplausos e/ou críticas. É nesse momento que podemos enxergar o que seria uma boa assessoria, principalmente quando conseguem tornar qualquer evento em ocasiões proveitosas.
Em tempos de crise na representatividade política, episódios como esses evidenciam o abismo entre os discursos e as práticas dos que ocupam cargos públicos. E esse despreparo, falta de escuta e reação impulsiva não apenas mancham a imagem dos envolvidos, mas corroem ainda mais a confiança da população nas instituições. É preciso resgatar a noção de que ocupar um cargo público exige, antes de tudo, responsabilidade, postura e compromisso com o diálogo democrático — mesmo, e principalmente, quando ele é desconfortável.