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    Autonomia e prestígio ofuscado: O que Luiz Adolpho e Lia de Itamaracá reivindicavam quando gestores?

    No início de seus mandatos, a prefeita de Olinda, Mirella Almeida (PSD), e o prefeito de Itamaracá, Paulo Galvão (PSDB), anunciaram nomes de prestígio para comandar as secretarias de cultura em seus municípios.

    Em Olinda, foi escolhido o professor Luiz Adolpho, presidente do tradicional bloco “Homem da Meia-Noite” — o maior do carnaval olindense e um dos mais importantes de Pernambuco.

    Já na ilha, a aposta foi a cirandeira Lia de Itamaracá. Uma nomeação representativa e respaldada por um legado cultural reconhecido nacionalmente.

    E como se esperava, os anúncios foram recebidos com entusiasmo pelos municípes, como pelos próprios setores da cultura, que enxergaram ali uma chance real de valorização do patrimônio local. No entanto, a euforia durou pouco.

    Em Olinda, Adolpho tentou aplicar na gestão pública a mesma seriedade com que conduz o calunga: responsabilidade, sensibilidade e compromisso com a cultura popular. Seu principal objetivo era realizar um carnaval em que os quatro dias de festa se traduzissem não apenas em alegria, mas também em oportunidade para a cadeia produtiva cultural — sobretudo para os que mais precisam. Chegou a prometer que nenhum trabalhador da cultura esperaria mais de 30 dias para receber seu pagamento.

    Contudo, a realidade se impôs de forma dura. A falta de autonomia, a interferência política nas ações da secretaria e decisões pouco republicanas inviabilizaram o projeto.

    E para preservar sua reputação e coerência, Luiz Adolpho optou por deixar o cargo e retornar à presidência do Homem da Meia-Noite.

    Em Itamaracá, Lia tentou trazer a cultura popular para o centro da política cultural da ilha. Buscou valorizar a produção local e dar visibilidade aos artistas da terra. Porém, seu projeto foi rapidamente esvaziado. A gestão municipal cedeu ao modelo comercial de sempre, ignorando propostas transformadoras.

    Isolada e sem autonomia, Lia de Itamaracá também decidiu se afastar, não sem antes criticar publicamente a condução da atual gestão.

    Duas saídas que revelam a profunda dificuldade de conciliar gestão pública com a real valorização da cultura popular. As prioridades se invertem logo após os discursos bem elaborados das coletivas de início de mandato.

    A cultura, mais uma vez, segue como ato de resistência — uma trincheira em defesa da memória, da identidade e da história de um povo. Um povo que, infelizmente, ainda vê sua cultura ser tratada como um detalhe supérfluo, quando não como algo a ser apagado.

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