
Com um horizonte político complexo, o Brasil chega a um momento que analisá-lo apenas sob a lógica da bipolarização entre a esquerda lulista e a direita bolsonarista não nos levará a conclusões sólidas, mas, nos engessará numa dicotomia espetacularizada e massificadora, que infelizmente esconde ardilosamente fatos que devem ser enxergados e compreendidos, sobretudo por se relacionarem, direta ou indiretamente com a ordem geopolítica e econômica.
Lembremos que nos últimos dias, o povo brasileiro foi às ruas levando consigo duas pautas antagônicas. A do campo democrático, popular e progressista, temos a defesa expressa da soberania nacional, devido aos ataques e imposições apresentadas pelo governo estadunidense. Já no campo conservador, alinhado à extrema direita, nota-se, a defesa do tarifaço norte-americano, que se aliou-se ao pedido pela anistia dos golpistas que tentaram usurpar a república brasileira em janeiro de 2023, como então pautas predominantes desses grupos.
E logo após todos esses atos, no início da semana, foi anunciada a decretação da prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por uma determinação do ministro Alexandre de Moraes. Uma decisão que de pronto, foi criticada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, dando assim, mais fôlego aos partidários do ex-presidente.
Por outro lado, também foi notado que alguns resultados econômicos e sociais ganharam relevo no país, demonstrando os rumos que o Brasil está seguindo. A exemplo dos números trazidos pelo IBGE, revelando a menor taxa de desocupação já registrada, desde 2012, onde chegamos ao índice de 5,8% de desempregados, bem como a importante saída do país, após longos três anos, do Mapa da Fome, da Organização das Nações Unidas, e ainda no mês de julho, um novo recorde nas exportações, pois, de acordo com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), vendemos, no primeiro semestre de 2025, mais de U$ 300 bilhões, com um crescimento de mercados estratégicos e ampliação das operações, sobretudo na Argentina, EUA e União Européia.
Números que agradam a economia e aproximam investimentos internacionais, sobretudo da China, que já anunciou que pretendem investir no Brasil, o montante de R$27 bilhões em áreas estratégicas, como tecnologia, inovação e energia.
Mas em que esses índices se relacionam com a direita, o clã Bolsonaro e o governo estadunidense? Tudo! Pois são por conta desses avanços apontados, junto ao protagonismo que o país tem consolidado, sobretudo no âmbito dos BRICs, bem como o processo de início da regulamentação das plataformas digitais e das Big Techs que, diga-se de passagem, é percebido como um ataque ao império digital dos Estados Unidos, que fazem com que apareçam figuras e grupos políticos serviçais aos interesses yankes, cujo o objetivo é barrar de todas as maneiras a consolidação de um projeto nacional de desenvolvimento e soberania.
De Sérgio Moro à Bolsonaro, todos esses, queira você ou não, são nítidos instrumentos de serventia aos interesses do capital financeiro, materializados, sobretudo, na política estadunidense. E essa espetacularização bipolar que temos, não passa de uma das formas e/ou narrativas pensadas, como uma maneira de traduzir (ou esconder) uma disputa, que nem começa, tampouco termina em terras tupiniquins.
Assim, perdoem-me os “patriotas bolsonaristas” e seus derivados, mas, nesse complexo tabuleiro político, o que mais está em jogo, não é a prisão ou não do ex-presidente, e sim os rumos atuais da geopolítica e as transformações em curso na divisão internacional do trabalho, searas essas que o desenvolvimento e a soberania nacional estão diretamente inseridos.
Porém, cabe a nós, saber o que queremos ou não enxergar.