
Agosto costuma ser um mês dedicado a celebrar a figura paterna. Mas entre as flores compradas na última hora e as homenagens prontas no feed, há uma pergunta que teima em bater no peito das mulheres: que tipo de pai estamos celebrando?
Durante séculos, ser pai foi sinônimo de “provedor”. Um papel frio, distante, burocrático, que servia mais à manutenção da hierarquia do que ao afeto. Enquanto isso, as mulheres carregavam o peso do cuidado, físico, emocional e cotidiano sem que isso sequer fosse reconhecido como trabalho.
Mas há uma geração de homens que está entendendo que cuidar não é um dom feminino, e sim uma prática humana, política e necessária.
Neste mês dos pais, queremos falar sobre esses homens que estão se comprometendo com o cuidado e não como um favor ou ajuda esporádica, mas como um ato cotidiano de responsabilidade e transformação.
São pais que acordam de madrugada com os filhos. Que sabem o nome do pediatra. Que dividem a rotina da casa sem serem solicitados. Que não têm medo do colo, do afeto, do choro. Que sabem que educar também é pedir desculpas, repensar comportamentos, acolher sem violência.
Pais que reconhecem que sua presença não substitui a da mãe, mas sim somam, aliviam, fortalecem. Pais que não acham que “cuidar é coisa de mulher”, porque sabem que a masculinidade não precisa ser construída em oposição à ternura.
Esses exemplos são ainda minoria, é verdade. Mas são sementes plantadas em solo fértil. Cada pai que escolhe estar presente de forma real abre caminho para que uma mulher possa respirar. Ter tempo. Sonhar. Trabalhar sem culpa. Ser cuidada também.
No Brasil, onde milhões de mães criam filhos sozinhas, a ausência paterna é uma das maiores feridas sociais. Mas também é no gesto de cada homem que decide cuidar, dividir e participar que está a chave para a cura.
Porque cuidar não é instinto materno, é decisão coletiva. E nesse compromisso, os homens têm um papel fundamental. Não como coadjuvantes, mas como agentes de uma cultura que não naturaliza a sobrecarga feminina.
Neste mês dos pais, que o amor não seja apenas celebrado, mas praticado. Que possamos reconfigurar os papéis, derrubar os muros do machismo e construir um novo modelo de família e sociedade, onde ser pai é, antes de tudo, estar junto.
E que as mulheres possam seguir sendo protagonistas, não por sobrecarga, mas por escolha.