
A recente visita da Ministra das Mulheres a Pernambuco vai além de um compromisso institucional. O gesto, simbólico e necessário, lança luz sobre uma realidade ainda distante da equidade: a sub-representação das mulheres nos espaços de poder e decisão no Brasil.
Embora representem mais da metade da população brasileira, as mulheres seguem em minoria nas esferas de poder. Na Câmara dos Deputados, ocupam apenas 17,7% das cadeiras. No Senado, são 15 de 81 parlamentares. No Judiciário, a presença feminina nos postos mais altos também é limitada.
Essa disparidade não é fruto do acaso, mas de um sistema político estruturado sobre bases machistas e excludentes. A violência de gênero na política vai além dos ataques verbais: se expressa no boicote, na deslegitimação e, sobretudo, no silenciamento. Um exemplo claro vem do próprio estado: a governadora de Pernambuco é alvo frequente de críticas que extrapolam o campo do debate político e assumem contornos claramente misóginos.
A reconstrução de políticas públicas voltadas para as mulheres e o fortalecimento institucional são medidas urgentes, mas só terão eficácia se alcançarem a ponta — as mulheres que atuam diariamente nos territórios, nos serviços públicos, nos conselhos, sindicatos e partidos, enfrentando, na prática, as desigualdades que os discursos muitas vezes apenas reconhecem.
A Constituição Federal assegura a igualdade de gênero, mas, na prática, essa igualdade ainda está longe de se concretizar. Para que isso ocorra, é preciso mais do que boas intenções: é necessário garantir orçamento, proteção contra a violência e compromisso político real com a equidade.
Mais do que assegurar o lugar de fala, é hora de ocupar o lugar de decisão.
Porque não há democracia plena sem a presença efetiva das mulheres no poder — não como exceção, mas como regra.